“Depois, um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui.”
fuck it. i'm inadequate. what can you do? Eu não escrevo para agradar os outros.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Eu não gosto do bom gosto, eu não gosto de bom senso, eu não gosto dos bons modos não gosto. Eu aguento até rigores, eu não tenho pena dos traídos, eu hospedo infratores e banidos, eu respeito conveniências, eu não ligo pra conchavos eu suporto aparências, eu não gosto de maus tratos. Não gosto! Eu aguento até os modernos e seus segundos cadernos, eu aguento até os caretas e suas verdades perfeitas.. Eu aguento até os estetas eu não julgo competência, eu não ligo pra etiqueta, eu aplaudo rebeldias, eu respeito tiranias e compreendo piedades, eu não condeno mentiras eu não condeno vaidades. Eu gosto dos que têm fome, dos que morrem de vontade, dos que secam de desejo.. Dos que ardem!
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
erros. todos tem.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
não é assim
Sem loucura. Sem aceitação própria. Sem segurança. Sem certezas.
dialogue
Vômito
Você já sabia o final, e mesmo assim tentou, ponto. Sem mágoas. Sem discussões.
domingo, 19 de setembro de 2010
Divã
"Sou eu que começo? Não sei bem o que dizer sobre mim. Não me sinto uma mulher como as outras. Por exemplo, odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações. Tenho vontade de cometer haraquiri quando me convidam para um chá de fraldas e me sinto esquisita à beça usando um lencinho amarrado no pescoço. Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina: brinquei de boneca, tive medo do escuro e fiquei nervosa com o primeiro beijo. Quem me vê caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras: ninguém desconfia do meu hermafroditismo cerebral. Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa. Penso como um homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa e um verdadeiro desastre na cozinha. Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos.Nossa, pareço uma metralhadora disparando informações como se estivesse preenchendo um cadastro para arranjar marido. Ponha na conta da ansiedade. Vivo cercada de pessoas, mas nunca somos nós mesmos na presença de testemunhas.
Às vezes me sinto uma mulher mascarada, como se desempenhasse um papel em sociedade só para se sentir integrada, fazendo parte do mundo. Outras vezes acho que não é nada disso, hospedo em mim uma natureza constestadora e aonde quer que eu vá ela está comigo, só que sou bem-educada e não compro briga à toa. Enfim, parece tudo muito normal, mas há uma voz interna que anda me dizendo: "Você não perde por esperar,Mercedes." É como se eu tivesse, além de uma consciência oficial, também uma consciência paralela, e ela soubesse que não vou segurar minhas ambigüidades por muito tempo.
Tenho um cérebro masculino, como lhe disse, mas isso não interfere na minha sexualidade, que é bem ortodoxa. Já o coração sempre foi gelatinoso, me deixa com as pernas frouxas diante de qualquer um que me convide para um chope. Faz eu dizer tudo ao contrário do que penso: nessa horas não sei aonde vão parar minhas idéias viris. Afino a voz, uso cinta-liga, faço strip-tease. Basta me segurar pela nuca e eu derreto, viro pão com manteiga, sirva-se.
Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promíscua, doutor Lopes. São muitas mulheres numa só, e alguns homens também."
dicas
Ei você, é você mesmo, sei que você sabe muito, mas mesmo assim queria te dar umas dicas, okay?
Tudo bem, começando: seja divertido e engraçado como sempre, e ao envelhecermos, por favor, não fique chato. Escreva coisas pra mim, escreva tudo pra mim, o que vier na sua mente no meio trabalho ou no meio da noite, quero cartas aos montes e mensagens inesperadas. Dê-me bombons de chocolate, os coloque disfarçadamente em meu bolso, faça anéis com o papelzinho rosa do sonho de valsa como meu pai fazia. Quero sentir-me protegida como ao lado do meu pai, e ao mesmo tempo desejada como fico ao seu lado. Dê-me flores, de preferência vermelhas. Faça café da manhã na cama. Surpreenda-me quando eu for lhe acordar na sua casa. Não grite comigo, você sabe muito bem que não altero meu tom de voz, então, deixarei você falando sozinho, no mínimo. Diga que me ama, sempre, em todo momento, em qualquer lugar. Mas, também demonstre não gosto só de palavras. Sempre olhe nos meus olhos enquanto conversarmos, eu adoro esse castanho escuro do seu olho. Beije meu nariz, minha testa, meus olhos, a ponta da minha boca. Dê-me selinhos demorados, eu adoro. Sempre (eu disse, SEMPRE) segure minha mão. Não seja tão grudento, tanto drama não me interessa. Apesar de eu gostar bastante de coisas dramáticas. E me avise quando eu estiver grudenta, mas, por favor, com muito cuidado. Entenda que na minha TPM, eu choro, muito. Deixe-me chorar, e me abrace. Não diga nada, espere eu falar primeiro. Não gosto de sentir saudade, mas de vez em quando é bom se distanciar para na volta haver mais e mais amor. Gosto de aventuras e ação. Gosto de filmes românticos. Finja que gosta também, só pra me deixar confortável, e então eu também irei assistir aos seus filmes de terror favoritos. Me chame pra olhar as estrelas, e dê nomes a elas. Me faça cócegas, me aperte. Não brigue comigo e não me julgue. Não precisa me compreender, apenas entenda e me aceite. Gosto de bater, xingar e morder. Nunca duvide do que eu digo, eu não mentirei pra você. Tenha suas próprias opiniões e não mude elas nem por mim, nem por ninguém. Goste de rock, goste de minhas músicas. Escolha uma música pra gente. Nunca aperte minha barriga. Seja um pouco caseiro, e pouco do mundo. Não se engane, eu sempre acordo de mal-humor, espere eu escovar os dentes primeiro. Diga que gosta dos meus defeitos, tente ser verdadeiro. Sou orgulhosa, cínica e irônica, me mude, tente me convencer a não ser. Não pague todas as contas pra mim. Cante. Termine um telefonema com ‘eu te amo’ e uma noite com ‘sonhe comigo’. Seja meio criança, meio gente grande. Enxugue minhas lágrimas, não me faça derramar mais. Quando eu perguntar quem era aquela garota, bem, entenda isso como um alerta vermelho. Você sabe muito bem que não demonstro ciúmes em público. Apoie os meus sonhos, e construa sonhos comigo. Pense em nomes para os nossos filhos. Quando eu erguer sua mão até a cintura, não volte a baixá-la. Segure meu rosto com as duas mãos. E não tenha besteira com arrotos ou algo do tipo. Tenha fotografias nossas pela casa. Seja sempre sincero. Gosto de discussões pelo fato das reconciliações. Elogie minhas roupas, e não critique meus sapatos ou esmaltes. Me leve pra comprar roupas com você. Goste de cães. Tenha um cheiro que me vicie. Não fume, gosto de sentir o seu perfume. Não beba muito, quero sentir seu hálito de menta. Me leve pra programas infantis de vez em quando. Não converse muito com as garotas que eu não gosto. Deixe o cabelo do tipo ‘acabei de acordar’. Deixe uma barba mal-feita de vez em quando. Fique com sua cara lisinha também. Não faça muitas promessas, mas, sempre que fizer, CUMPRA-AS. Seja fiel. Seja um vício. Seja uma droga. Seja viciado em mim. Goste de Fresno. Me chame de pequena. Finja gostar da minha família. Nas discussões, esteja sério e brincalhão ao mesmo tempo. Brinque, ria. Aperte minhas bochechas. Entenda meus problemas mínimos e sem importância. Conte-me os seus. Seja meu melhor amigo. Converse. Declare-se. Me faça sentir importante e suficiente. E sua. Parece muito, mas, é fácil. Eu sei que você consegue. E quando tudo isso funcionar, só vai restar a gente se amar.
Jessica Moura Torres
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
saudade
'saudades daqueles dias, saudades da nossa amizade nessa epoca, saudades do meu antigo cabelo, saudades dos meus pensamentos , saudades dos segredos que até então eu era a 1° a saber ! . saudades das madrugadas e dos dias também, saudades das danças loucas, saudades das caretas provocantes, saudades de quando faziamos nada, quando não esperavamos nada, saudades dos calos nos pés, saudades de ter conhecido gente nova, saudades de não fazer nada, de fazer tudo, de ser alguém :S saudades das músicas que não conheciamos e por isso pareciam mais bonitas. saudades de chegar e falar: Nossa não conheço ninguém e também por isso aquelas mesma pessoas de hoje eram mais bonitas e interessantes’ . eu sinto saudades da empolgação com as coisas, saudades das coisas SIMPLES E COMPLETAS;. saudades das coisas que não eram pela metade, saudades do tempo que NÃO tinha só saudades :x'
domingo, 12 de setembro de 2010
você apareceu de repente.
A gente passou anos e anos, se vendo no mesmo ônibus e mesmo assim a única coisa que falamos era: oi, tudo bem? Tchau. De umas semanas pra cá, a gente se juntou. Nos unificamos em uma coisa só. Você se tornou aquela menina linda da outra rua, que canta bem, a menina do sorriso mais lindo, a menina companheira e amiga, que me escuta e entende, que fala e compreende.
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil. Mas namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado é quem não tem amor é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar. Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário. Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira - d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro. Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria. Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA.
"Letícia não sabia que podia ter uma amizade que surgisse tão rápido e que a dominasse de forma tão clara e absurda. Aleex surgiu e mudou a cabeça de Letícia. Aleex e Letícia, eram pessoas normais, conhecidos, e agora amigos. Os dois? Muito parecidos. Letícia ama escrever, Aleex adora o que Letícia escreve. Aleex adora escrever, e Letícia sonha com o que Aleex escreve. As palavras que os dois juntam, dançam entre linhas, com os diferentes ritmos que os dois escutam. E consequentemente, os dois amam música. Tão iguais, tão diferentes. Mas depois de tudo, não existe diferenças quando se tem uma amizade como a deles. Aleex e Letícia, tão iguais, tão diferentes. Tão juntos e tão separados. Ela sonha com essa amizade até o fim. Ela não sabe bem o que ele pensa. Ela sorri ao falar com ele, ele também…talvez. Letícia e Aleex, costumes parecidos ou nem tão parecidos assim. Mas isso que faz essa amizade voar entre as nuvens e crescer com o tempo. Letícia imagina fotos, gargalhadas, “gente” pra lá e pra cá quando encontrar Aleex, Letícia imagina ele sorrindo, ele sorri ao ver que ela está feliz. Como se pode imaginar eles tão amigos e tão desunidos? Pessoas não acreditavam ou acreditam em amizades de longa duração pela internet. Não acreditam, porque não conheceram Aleex e Letícia. Não importa quanto tempo for. Sempre é bom poder contar com alguém que sabe o que você sente, mesmo sem olhar nos seus olhos. Aleex pode até duvidar do sentimento de Letícia por ele. Quem sabe ele se pergunte antes de adormecer se isso tudo é real. Mas a certeza surge, quando Letícia ao despertar, sorri e sussurra para si mesma: - “Eu amo você Aleex”.
Ela: Sinto sua falta!
Ele: Não deveria sentir!
Ela: Você me prometeu o pra sempre, acho que tenho o direito de cobrar!
Ele: E você prometeu não se apaixonar, me sinto no mesmo direito…
Ela: Eu estava blefando, você deveria saber!
Ele: Não blefei ao te prometer, mas não tinha forças para cumprir!
Ela: Vai ser dificil sem você, eu vou me perder no mundo, ninguém mais vai cuidar de mim…
Ele: Você era tão viva antes de nos conhecermos!
Ela: E ao te conhecer dediquei toda a minha vida a você!
Ele: Acho que aí está o erro.. tente não comete-lo mais uma vez.. Fica bem!
Ela: Ainda sinto a sua falta..
Ele: Só até você perceber que para viver não precisa de mim e de nenhum outro alguém!
Ela: Eu dei a minha vida por você!
Ele: Eu nunca pedi que desse!
Ela: Mas eu achei necessário…
Ele: Agora você precisa dela de volta, e sinceramente eu nao sei onde à coloquei.
Ela: Você falhou comigo!
Ele: E você falhou com você mesma!
(autor desconhecido)
terça-feira, 7 de setembro de 2010
amiga é pra essas coisas
Você me ajudou quando tudo tava dando errado. Você me disse coisas que me fizeram melhorar o astral e atrás de deixar tudo bem. Você disse que eu poderia contar sempre com você na hora que eu mais precisei. Então, lá vai:
burn
Acendi um fósforo pra poder ver o fogo queimar aquele pedacinho de madeira, ver aquela magia que tem na mudança das cores, aquele amarelo vivo, aquele azul quase verde; e antes que eu pudesse desfrutar de toda aquela imensidão de cores e de vida, ele se apagou. E tudo ficou escuro. Preto. Só podia se ver a fumaça que avisava que tudo havia acabado.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
carta ao zézim
"Você me pergunta: que que eu faço? Não faça, eu digo. Não faça nada, fazendo tudo, acordando todo dia, passando café, arrumando a cama, dando uma volta na quadra, ouvindo um som, alimentando a Pobre. Você tá ansioso e isso é muito pouco religioso. Pasme: acho que você é muito pouco religioso. Mesmo. Você deixou de queimar fumo e foi procurar Deus. Que é isso? Tá substituindo a maconha por Jesusinho? Zézim, vou te falar um lugar-comum desprezível, agora, lá vai: você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. O caminho é in, não off. Você não vai encontrá-lo em Deus nem na maconha, nem mudando para Nova York, nem.
Você quer escrever. Certo, mas você quer escrever? Ou todo mundo te cobra e você acha que tem que escrever? Sei que não é simplório assim, e tem mil coisas outras envolvidas nisso. Mas de repente você pode estar confuso porque fica todo mundo te cobrando, como é que é, e a sua obra? Cadê o romance, quedê a novela, quedê a peça teatral? DANEM-SE, demônios. Zézim, você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheria esse oco. Não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. O que tem é uma questão de honestidade básica. Essa perguntinha: você quer mesmo escrever? Isolando as cobranças, você continua querendo? Então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito / diz pra ti o que não gostas de ouvir / diz tudo". Isso é escrever. Tira sangue com as unhas. E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida.
Eu conheci razoavelmente bem Clarice Lispector. Ela era infelicíssima, Zézim. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo. Te falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literariamente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida”. Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria trip e foi inventando caminhos, na maior solidão. Como Joyce. Como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artaud. Ou Rimbaud.
É esse tipo de criador que você quer ser? Então entregue-se e pague o preço do pato. Que, freqüentemente, é muito caro. Ou você quer fazer uma coisa bem-feitinha pra ser lançada com salgadinhos e uísque suspeito numa tarde amena na Cultura, com todo mundo conhecido fazendo a maior festa? Eu acho que não. Eu conheci / conheço muita gente assim. E não dou um tostão por eles todos. A você eu amo. Raramente me engano.
Zézim, remexa na memória, na infância, nos sonhos, nas tesões, nos fracassos, nas mágoas, nos delírios mais alucinados, nas esperanças mais descabidas, na fantasia mais desgalopada, nas vontades mais homicidas, no mais aparentemente inconfessável, nas culpas mais terríveis, nos lirismos mais idiotas, na confusão mais generalizada, no fundo do poço sem fundo do inconsciente: é lá que está o seu texto. Sobretudo, não se angustie procurando-o: ele vem até você, quando você e ele estiverem prontos. Cada um tem seus processos, você precisa entender os seus. De repente, isso que parece ser uma dificuldade enorme pode estar sendo simplesmente o processo de gestação do sub ou do inconsciente.
E ler, ler é alimento de quem escreve. Várias vezes você me disse que não conseguia mais ler. Que não gostava mais de ler. Se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? Ou escreva então para destruir o texto, mas alimente-se. Fartamente. Depois vomite. Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E eu acho — e posso estar enganado — que é isso que você não tá conseguindo fazer. Como é que é? Vai ficar com essa náusea seca a vida toda? E não fique esperando que alguém faça isso por você. Ocê sabe, na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente.
Ou então vá fazer análise. Falo sério. Ou natação. Ou dança moderna. Ou macrobiótica radical. Qualquer coisa que te cuide da cabeça ou/e do corpo e, ao mesmo tempo, te distraia dessa obsessão. Até que ela se resolva, no braço ou por si mesma, não importa. Só não quero te ver assim engasgado, meu amigo querido."
carente
Essa carência não me deixa em paz. Eu sei, você sabe, todos sabem. Que eu tenho meu par de braços pra abraçar, meus lábios maravilhosos pra beijar e aquele corpo imenso todo meu. E eu me sinto completa. Mas, eu queria tanto mais tanto ter ele por mais um segundo cada noite da minha vida. Mais um instante antes de dormir, mais um instante antes de acordar.
obrigado por me ouvir (de novo)
sábado, 4 de setembro de 2010
no fim, olhe para o começo
Eu olho pra trás e vejo aquele filme que eu não atuava e nem produzia. Apenas, vejo aquilo que está na minha imaginação de histórias tantas vezes contadas. Eu vejo dois meninos cabeludinhos que ficavam jogando sua bolinha de sempre, no meio da rua. E de tempos em tempos, se pegavam no tapa. Depois de alguns anos, eu vejo um deles caído ao pé da cama, com lágrimas caindo ao chão; o outro, chega, o abraça, faz ele se erguer, e diz: